Mio Nihei vive em Setagaya, um dos 23 bairros de Tóquio, a capital do Japão. Porém, durante dez meses viveu em Benavente, com a Ana e o Nuno e o respetivo filho, o Sebastião. Uma experiência única e transformadora. "Ela é a nossa filha de coração", afirma, perentoriamente, o "pai adotivo".
Tudo começou por acaso, em 2010, quando ambos receberam, por poucos dias, uma jovem da Tailândia, entregue a outra família. "Foi um pequeno favor que fizemos na altura mas ficámos com vontade de sermos uma família de acolhimento de jovens em intercâmbio cultural", recorda Nuno. Candidataram-se e, em 2012, o sonho tornou-se realidade. O casal acolheu Mio, de 16 anos, e apesar de todos os desafios, barreiras linguísticas e dificuldades, o resultado foi incomensurável. Como se pode pode medir o amor e a entrega que se dá a alguém desconhecido? Como se pode descrever a experiência de cuidar, receber, educar e proteger o filho de outra pessoa durante um ano letivo? "No dia que nos despedimos dela, estavam lá outras famílias e todas tinham levado prendas. Eu a minha mulher ficámos tivemos uma ideia: demos as chave da nossa casa a ela e dissemos-lhe que podia voltar sempre que quisesse".
É, sem dúvida, uma ideia extremamente humana e compensadora. E isso é a base das famílias de acolhimento da associação Intercultura, a representante em Portugal da American Fiel Service (AFS), uma organização internacional presente em 56 países que promove a troca de jovens entre países. Os períodos podem variar, desde apenas o verão até um ano letivo completo. O objetivo é contribuir para a paz e compreensão entre os povos através de intercâmbios de jovens e famílias, para uma aprendizagem cultural e educativa.
Nuno e Ana aprenderam imenso e vão repetir este ano. "Em setembro iremos receber um jovem japonês que vai cá ficar até junho do próximo ano", revela. E agora deverá ser mais fácil, acredita. "Com a Mio, a língua foi sem dúvida um problema. Os hábitos alimentares são diferentes, a religião e os costumes também. No entanto, é uma descoberta constante para ambas as partes e tudo é ultrapassável", assevera.
O processo é simples, embora exaustivo. Todas as famílias passam por um crivo que elimina possibilidades de algo correr mal. E, muito importante, os custos são suportados na totalidade pelo jovem que entra no programa. "É claro que podemos decidir comprar alguma coisa do nosso bolso. Mas a alimentação, os livros, entre outros detalhes, já vêm garantidos", explica Nuno Nunes.
Para acolher algum destes jovens, basta aceder ao sítio online da Intercultura onde também é possível conhecer melhor os vários projetos e inclusive, se esse for o caso, propor a participação de um jovem. Em ambos os casos, a experiência é sempre gratificante, a todos os níveis. "Há uns tempos, a Mio veio de férias a Portugal com a família e estávamos a trabalhar e foi impossível ir buscá-los ao aeroporto. Por isso, dissémos à Mio que ela tinha a chave e só precisava de entrar". Se isto não é uma família, o que será?
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