Pedro Mestre foi o vencedor do prémio Carlos Paredes 2016. O galardão, no valor de 2.500 euros, será entregue oficialmente a 3 de dezembro, pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, numa cerimónia a realizar às 21h30, no Centro Cultural do Bom Sucesso. É o reconhecimento pelo trabalho do autor e sobretudo pelo disco "Campaniça do Despique”, um álbum com 13 faixas onde o cantautor faz a fusão entre a música tradicional alentejana e os sons mais modernos. "Foi uma surpresa", confessa numa breve entrevista à revista gira. "Quando recebi o email, fiquei muito contente e sobretudo orgulhoso por ver exaltada estas artes que prezo há tantos anos".
Pedro Mestre é um músico de 32 anos, nascido na aldeia de Sete, concelho de Castro Verde, distrito de Beja. Há mais de duas décadas que vive colado ao património cultural alentejano. "A minha família sempre esteve ligada à música e eu cresci em redor de pessoas mais velhas que propagavam sonoridades ancestrais. Lembro-me de, com oito anos, ir à taberna chamar o meu avô para jantar e ficar a ouvi-lo com os amigos a improvisar uma moda ou a partilhar uma história. Aquilo fascinava-me. Parecia que viajava no tempo". Esta sensação impregnou-se-lhe na alma e desde essa altura que Pedro Mestre soube o que queria fazer para o resto da vida. "Comecei por fazer parte de grupos corais, cheguei a frequentar o conservatório, aprendi a tocar viola, e quando atingi a maioridade passei a ser eu o responsável por transmitir estes ensinamentos aos mais novos". Ele é o único aprendiz que resta dos mestres Manuel Bento e Francisco António, já falecidos, os últimos profissionais em todo o país da viola de campaniça. "É um instrumento que estava a morrer, tal como ou-tras tradições musicais, como o canto alentejano. Felizmente, está a dar-se uma mudança e hoje estes géneros estão a rejuvenescer". Porém, admite que nem tudo foram rosas. "Durante muitos anos sofri quase bullying por gostar disto. Era gozado pelos meus colegas na escola e amigos por andar sempre com os velhos ou quando ia tocar às rádios. Os mesmos que hoje reconhecem o meu trabalho e dão valor às tradições".
Começou por participar em grupos corais aos 11 anos. Já em adulto passou a visitar escolas, "um trabalho difícil no início". Contudo, 20 anos depois, congratula-se com o que alcançou. "Chegou o momento certo para me assumir como compositor e apresentar um primeiro trabalho a solo com base na tradição, na minha história e naquilo que é o meu gosto pela música", refere a propósito do CD "Campaniça do Despique”, disco que pode comprar no sítio www.pedromestre.com.pt e onde é possível conhecer toda sua discografia.
E para quem nunca ouviu uma viola de campaniça, Pedro Mestre aguça o apetite: "transmite uma sonoridade deslumbrante e ao mesmo tempo simples. O seu trinado associa-se a uma região, a um som muito arcaico, de harmonias perfeitas, que fazem lembrar a história de homens e mulheres calejados pelas suas vivências, mas orgulhosos das suas raízes. O som de arame tradicional transporta-nos para a riqueza do século passado", realça. O canto a despique, por seu turno, é uma modalidade que existe “do canto de improviso e é um entre os vários géneros de cantar ao desafio. E esta viola acompanhava as modas. Daí campaniça de despique". Todavia, no disco ele não toca o verdadeiro despique, mas toca para “despicar uma série de coisas".
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