Em vésperas de celebrar mais um 25 de abril, a vereadora do PSD e candidata à presidência da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira dá a sua opinião sobre a revolução dos cravos.
Por Helena Pereira de Jesus*
Na primeira vez que nos encontrámos, J. disse-me, levemente comovido, “que, pela primeira vez na sua vida, estava a conversar de ‘igual para igual’ com um vereador ou vereadora. Era a primeira vez que se expressava sem medos, livremente”.
Este episódio passou-se em 2009, no meu gabinete, na época em que estive como vereadora com funções executivas na Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. J. traba-lhava há mais de 30 anos na Câmara Municipal, e por isso esta conversa me marcou de tal modo, que a recordo nitidamente. Dizia-me que nunca o aceitaram como colaborador com opinião, nem sequer o ouviam. Contou-me que até à minha tomada de posse, os funcionários e colaboradores do nosso departamento tinham que marcar atendimento com o gabinete de apoio à vereação, para poderem fazer reuniões de trabalho. Simples reuniões de trabalho para despachar assuntos. Era preciso marcar um atendimento! E nesses “atendimentos”, não havia confiança para que os funcionários se pudessem expressar espontaneamente, sem medos.
Quando cheguei à Câmara Municipal, reuni os funcionários dos meus pelouros, e disse-lhes que embora estivesse como vereadora, eramos uma equipa de trabalho, e que para o serviço funcionar, eu precisava mais deles, do que eles precisavam da vereadora. Acabei com as marcações de atendimentos aos funcionários, e abri a porta do meu gabinete, trabalhando sempre de porta aberta, permitindo a todos os que precisassem de resolver assuntos, que o fizessem, com toda a liberdade, de igual para igual, sem medos.
Estamos em abril, mês da liberdade. Costumo dizer às minhas filhas que “a liberdade delas termina quando começam a ofender os direitos dos outros”, e várias vezes lhes conto este episódio, porque me comoveu e chocou como fui encontrar pessoas que trabalhavam na administração pública num clima de medo e opressão. J. não era um caso isolado. Durante o período que estive com funções executivas, e à medida que ia ganhando cumplicidade com os funcionários, estas histórias repetiam-se. Reconheço hoje, que alguma ingenuidade me levou a presumir que as forças políticas que até então teriam governado o município, tratavam todos de igual para igual, sem repressão, num clima de convívio e respeito por todos os funcionários e colaboradores. A realidade que conheci foi outra. Tento passar às minhas filhas que devemos viver de forma a respeitar e melhorar a liberdade dos outros. Pessoalmente, desejo tanto que respeitem a minha liberdade que sou incapaz de não respeitar a dos outros.
*vereadora do PSD e cronista na gira
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