"Nunca desisto"



Andrea Verdugo foi afastada da final do concurso “The Voice Portugal” mas é para o lado que ela dorme melhor. “Caso fosse um dos finalistas ficaria presa a um contrato de exclusividade que não me iria beneficiar”, revelou à gira. Nos próximos seis meses ainda deve explicações à produtora mas, depois, prepara grandes planos para a sua vida profissional que, inevitavelmente, passa por sair das fronteiras do concelho. Neste número, em que dedicamos um especial aos talentos da região, o António Dias foi falar com a jovem cantora de 24 anos sobre a sua carreira e sobre a sua paixão pela sua terra.

Ficaste desiludida por teres falhado a final do The Voice Portugal?
Nem por isso. Existem questões contratuais que me poderiam ser desfavoráveis. Ao entrar para o programa, os participantes assinam dois contratos: um com a produtora e outro com uma master, neste caso a Universal Music Portugal. E quando passamos para a final são ativadas automaticamente determinadas cláusulas que nos prendem durante quatro anos à editora. Eles detêm todos os direitos sobre a minha propriedade artística, com a opção de usar ou não essa possibilidade. É apenas uma forma de não nos deixarem escapar. Assim, apenas estou vinculada por seis meses. Quando estamos numa situação destas acontece tudo tão depressa. E uma coisa é vivê-la no momento, outra é estar cá fora e analisar tudo com calma. É claro que é sempre estranho ter estado tão próxima da final. Mas ter sido uma das oito melhores enche-me de orgulho. E tenho que confessar que gostei muito da qualidade dos vários participantes. Descobre-se gente formidável por aí. E vejo, cada vez mais, que muitos vêm de locais desconhecidos, longe das grandes cidades. Há muito talento neste país e só tem sucesso quem trabalha e persiste. A sorte é apenas dois por cento do bolo final.

Este não foi o teu primeiro programa de televisão.
Estive no Factor X, participei no concurso de bandas do concelho de Vila Franca de Xira, o RIFFEST, onde ficámos em segundo lugar e que nos garantiu dinheiro para comprar uns instrumentos para a banda [Andrea faz parte dos Grifo], e quando era muito pequenina fui com o meu pai ao Família Superstar que juntava famílias a cantar.

Aliás, a tua família é feita de músicos.
A minha avó tocava baixo e o meu bisavo é que ensinou o meu pai a tocar música. Eles tinham um grupo de baile nos anos de 1950 e 1960. O meu pai chegou a ter uma banda aqui no concelho que teve imenso sucesso, os "Vortex", que até se reuniram há pouco tempo, e manteve-se também a solo ou com outros grupos. A minha mãe é mais das artes, que é outra vertente da minha vida [Andrea é licenciada em design de cena, maquilhadora e cenógrafa]. Ela faz mais artesanato e também pinta. Eu acabei por juntar os dois lados. Já a presença neste tipo de programas é sobretudo para promover a minha banda, os Grifo. Já nos conhecemos há imensos anos e, apesar de termos começado com covers, como qualquer banda como a nossa, já temos temas próprios e gravámos recentemente o nosso primeiro disco, “Fugaz”. Ir ao The Voice foi uma tentativa de divulgar o nosso trabalho em maior escala. Foi a mesma estratégia quando fui ao Factor X.

No The Voice acabas por reencontrar a Marisa Liz.
Sim. Os Amor Eletro vieram ao pavilhão multiusos, há cerca de três anos, participar no festival da juventude. Como fã decidi arriscar e enviei uma mensagem por email a sugerir cantar uma música com eles em palco. Fiquei à espera e só umas três semanas antes é que me responderam afirmativamente. É claro que eles tinham feito pesquisa e conheciam um pouco do meu trabalho, sobretudo com os Grifo e aceitaram a ideia. Foi a minha primeira grande oportunidade.

Deve ter sido emocionante.
O Cevadeiro estava a abarrotar, nunca me esquecerei. Ainda por cima eles eram, e são, para mim, uma banda de referência, o que me deixou ainda mais extasiada. A partir daí foi sempre a crescer. Começámos a compor, organizámos melhor o nosso catálogo, participámos em espetáculos de renome, como o EDP Live Bands, que nos leva ao Optimus Alive e que, por sua vez, nos permite ir gravar uma música a uma master, a Sony Music, perante um painel de gente importante no mundo da música. No final, conseguimos chegar aos seis finalistas, o que já achámos excelente. Depois disto tudo, sentimo-nos seguros o suficiente para pensar em gravar um disco. Andámos à procura de uma discográfica que pudéssemos pagar, até que nos cai do céu a Valentim de Carvalho que nos propôs uma acordo impossível de recusar. O disco é pequenino, tem apenas nove músicas, mas é apenas o início. Os Grifo começaram por ser uma banda com quatro elementos e já somos uma equipa de nove pessoas, tudo malta da região, que trabalha neste projeto. A responsabilidade é cada vez maior.

Vivem sobretudo de concertos, certo?
Sim. Não pretendemos fazer dinheiro com o álbum. Aliás, estamos neste momento a preparar toda a plataforma para que esteja tudo disponível de forma gratuita na internet. Já lançámos um single “Ébrio” que faz parte do EP e devemos lançar outro tema em breve. Estes seis meses do programa foram um stress e só agora estamos a acalmar. Portanto, para já estamos a preparar um CD com cinco músicas gratuitas e outras 100 unidades físicas pagas, exclusivas, com duas faixas mistério, para criar suspense. É claro que não queremos lucrar com isto. O objetivo é dar a conhecer a nossa música.

E começas a ser reconhecida na rua?
Muito. Então fora de meios urbanos é a loucura! No entanto, tenho os pés bem assentes na terra. A passagem pela televisão é um toque e foge. Se não existir trabalho, empenho e sacrifício, é inútil. Sei que acabo por marcar pela minha imagem irreverente e meio tonta, mas é o trabalho com os Grifo que marca o meu percurso e que me alimenta a alma. Aliás, fiz sempre questão de falar dela a todo o momento, daí também estarmos a ser tão reconhecidos.

E preparam-se para sair das fronteiras do concelho. 
Sim até porque já tocámos em todos os sítios possíveis e imaginários por aqui. Queremos agora alcançar um palco maior. Mas confesso que tenho muita pena como Vila Franca de Xira parece estar a morrer. Gostava que tivesse mais vida. E falo como ativista cultural [Andrea faz parte da associação MICA] e esta atitude chateia-me um bocadinho porque as pessoas dizem que nunca há nada mas quando parece existir nunca aderem. E, no fim, acaba por haver uma certa estagnação. Só que eu sou jovem e teimosa e como tal nunca desisto. E através da MICA e dos Grifo mantenho esta luta constante e fico muito contente quando temos sucesso. Como acontece com a Semana do 11,  o programa cultural gratuito, em que acontece sempre algo às 11 horas, e que tem tido uma ótima aceitação. Só que depois tudo o resto parece que não pega. Custa-me que, por mais que haja ideias e atividades, nada singre. E nós temos todos o fatores para sermos uma terra grande: localização, espaços icónicos, o rio, a história e o património.  Talvez seja a proximidade com Lisboa e estarmos a 15 minutos de comboio da capital. E a culpa nem é de quem dirige os destino do concelho, porque a cultura existe. É mais com o povo em si. Nós, banda e eu, temos imenso orgulho na nossa terra, parece é que que ela não tem orgulho em nós.

Entrevista incluída na edição de janeiro da gira. Para ler aqui.




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