Vila Franca está a rejuvenescer


Ricardo Leal e Pedro Teles são parte de uma nova geração de vilafranquenses que está a rejuvenescer a região. João Pereira, Leonor Teles, Vile, Vasco Gargalo, entre outros, são exemplos de gente cheia de qualidades que recusaram os lamentos, enfrentaram os obstáculos e abraçaram o futuro com garras e um sorriso no rosto. Nem toda a gente consegue ser catapultada para a fama. É preciso talento, sacrifício, empenho, trabalho, esforço e "talvez uns dois por cento" de sorte, como afirma Andrea Verdug. A jovem cantora de 24 anos, de Alhandra, participou no The Voice Portugal e a banda de que faz parte, os Grifo, preparam-se para lançar o primeiro álbum editado pela Valentim de Carvalho. Ser reconhecida na rua "tem sido muito engraçado", revela.
Parece, no entanto, que o concelho de Vila Franca de Xira, por algum motivo que nos escapa, tem colocado no topo do sucesso diversas figuras, em áreas bem distintas. Leonor Teles conseguiu, em fevereiro de 2016, surpreender o país ao receber o Urso de Ouro, em Berlim, para a melhor curta metragem com o filme "Balada de um Batráquio". Na altura desabafou: "foi tudo demasiado rápido. Ontem era ninguém e hoje estou escarrapachada nos jornais”. Em outubro último, um desenho de Vasco Gargalo tornou-se viral. A imagem recria a famosa pintura de Pablo Picasso, "Guernica", para abordar o conflito na Síria. "Convivi com uma reprodução do quadro que havia em casa dos meus pais, em Vila Franca de Xira, por isso conheço-o bem". Sem dar por isso, o mundo inteiro comentava e partilhava. "Já tinha feito o cartoon em maio, mas só a partir de agosto, quando o conflito na Síria se intensificou, é que tudo começou a acontecer”, explica, admitindo que a fama lhe aumentou as encomendas. João Pereira, atleta de Alhandra, representou Portugal nos jogos olímpicos do Rio de Janeiro e chegou à quinta posição. O melhor resultado de sempre no triatlo masculino português. Tudo seria diferente "se no desporto escolar o meu professor de educação física não tivesse reparado em mim", afirma. E depois há os casos de Vile, o grafitter reconhecido pelo seu traço único e que tem colorido Vila Franca ano após ano. "Fico contente que hoje Vila Franca de Xira reconheça o meu trabalho. Tive que penar um pouco, mas tudo na vida tem o seu preço", refere. Outro caso emblemático é a dupla Ricardo Leal e Pedro Teles. Os dois proprietários, empresário e chef respetivamente, do restaurante 150 gramas e do bar de tapas Bodega, lamentam a estagnação de algum comércio mas defendem com orgulho a alma vilafranquense. "Desde o início que quisémos investir em Vila Franca", afirma Pedro Teles. "Existe espaço para crescer na região. É preciso que os espaços se renovem e pensem no futuro. Ficar parado no tempo é morrer", critica. Ambos os locais tornaram-se rapidamente exemplos de bom gosto, originalidade na confeção, qualidade no serviço, e isso tem se refletido em casas cheias. Agora preparam-se para renovar o café do museu do neorealismo que deverá reabrir a 10 de janeiro. "Vai ser um espaço muito dentro da nossa filosofia. Queremos marcar pela dife-rença", assevera Ricardo Leal.
Estes são apenas alguns exemplos. Há uma longa lista de gente, alguns até desconhecidos, que arregaçam mangas e se tornam um sucesso nas suas áreas. No desporto, o município é muito forte, em particular o Alhandra Sporting Club de onde têm saído talentos como Melanie Santos, no triatlo, e Rui Câncio, na canoagem, entre ou-tros. De Alverca partiu Rui Vitória que treina o Benfica e tem colocado o clube encarnado no topo do campeonato nacional de futebol. Maria João Luís, nascida em Vila Franca de Xira, é atualmente é uma das atrizes mais respeitadas, e Albano Jerónimo, que começou no grupo de teatro Esteiros, prepara-se para aparecer, neste início de 2017, na série de televisão internacional, "Vikings". O ator português de Alhandra segue assim as pisadas de Daniela Ruah e Diogo Morgado que trabalham ao lado de vedetas de Hollywood.
E há que lembrar o caso de Baptista Pereira que a 21 de agosto de 1954 bateu o recorde do mundo na travessia do canal da Mancha. Foi um dos maiores feitos desportivos portugueses até essa data conseguido depois de atravessar a nado o Tejo vezes sem conta, em busca de fruta na outra margem. A população de Alhandra recebeu-o em festa e deu-lhe uma casa como presente. E há os exemplos óbvios de Álvaro Guerra ou Alves Redol. Porquê toda esta garra? Talvez seja o património genético acumulado em milénios. Vila Franca de Xira foi um ponto de passagem, entre o norte e o sul, o este e o oeste, terra com cheiro a campo, touro e cavalos, riqueza que brota do solo.  Talvez seja tudo junto e mais a alma de gente cheia de história.



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