Vila Franca no meu coração


Filipa Coito*


Foi por acaso que caí nesta terra deslumbrante. Nasci e cresci em Lisboa e o Ribatejo, para mim, era sobretudo o Cartaxo, onde vinha passar os fins de semana e as férias numa quinta do meu pai. Mas um dia, há muitos, muitos anos, estava no comboio, a caminho de Azambuja, quando o Colete Encarnado enchia as ruas de Vila Franca de Xira. Cidade ao rubro. Uma amiga acompanhava-me e, estupefactas, vimos centenas de pessoas penduradas nos muros, touros a percorrerem as ruas, malta de cerveja na mão e sorrisos traçados nos rostos. A energia atingiu-nos em cheio e os planos foram alterados ali mesmo: tínhamos que sentir aquilo na pele. Apeámo-nos e lá fomos em busca de sensações fortes. Foi nessa noite que conheci o pai dos meus dois filhos e, por consequência, a minha futura morada. Escusado será dizer que aquele dia é um dos mais marcantes da minha vida. Hoje, apesar de até nem cá morar, mantenho uma extrema afeição por esta terra. Perguntam-me, por vezes, se desejo mudar. A minha resposta é imediata: nunca. Para a maioria das pessoas, faria sentido largar isto e optar por um emprego noutro sítio. "Porque não o Algarve?", perguntam-me, muitas vezes. "Tens casa no Alvor e adoras praia, seria perfeito!" Errado. Claro que gosto da capital, das minhas raízes alfacinhas, do cheiro a maresia pela manhã... porém, nada se assemelha a Vila Franca de Xira. Lugar de gente catita, humilde, de pés assentes na terra, fraterna e de boa disposição. É malta alegre e ansiosa de afeto, ligada ao campo e às tradições que são tão portuguesas. Nunca. Abandonar tudo isto, seria matar parte de mim e perder um pouco da minha memória. Para quê? Por isso, fica aqui a promessa: nunca te vou deixar Vila Franca. Meus vila-franquenses do coração.

*diretora bancária

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