"Criamos cidadãos do mundo"


A fundação CEBI assinalou, a 25 de novembro, 48 anos de existência. Aquilo que começou por ser uma pequena creche, criada por José Álvaro Vidal, em 1968, cresceu para se tornar numa das maiores instituições do concelho de Vila Franca de Xira, reconhecida além fronteiras. Ana Maria Lima, presidente desta instituição, responde às questões do jornalista António Dias, num breve balanço do seu mandato.

António Dias: Ficou assustada com a res-ponsabilidade de assumir o cargo de presidente?
Ana Maria Lima: Apesar de ter assumido a presidência há cerca de três anos e meio, faço parte desta casa há mais de duas décadas, desde que o antigo Centro de Bem-Estar Infantil se transformou na Fundação CEBI. Na altura, quando o Sr. José Vidal convidou diversas organizações para constituir a Fundação, entre elas o banco Santander Totta, do qual fazia parte, tive o meu primeiro contacto com esta instituição e apercebi-me imediatamente da sua importância no seio da comunidade. Nas várias áreas de intervenção da Fundação, Educação, Ação Social e Saúde, temos sabido conquistar a confiança dos nossos utentes. A Fundação CEBI está cons-ciente da necessidade de continuar a apostar na melhor forma de intervenção sobre a proteção e promoção da qualidade de vida, em condições condignas, de todos os indivíduos que cons-tituem a teia social em que se integra, desde os mais novos, aos mais velhos. Por outro lado, foram dados passos no sentido de modernizar a nossa organização, onde cada departamento tem as suas responsabilidades e objetivos bem definidos. O nosso plano de atividades e res-petivo orçamento, por exemplo, é elaborado em conjunto, em que todos os responsáveis se comprometem com as suas metas. Nada é feito de cima para baixo. Tudo é discutido e partilhado. Estou consciente que faço o meu melhor pelo que não me assusta a responsabilidade que assumi.

São muito frequentes os elogios, dos encarregados de educação aos vários agentes sociais da região. Mas nada é perfeito. Que problemas há para resolver?
Numa organização como esta há sempre aspetos a melhorar. Caso contrário, estagnávamos no tempo. O nosso core business é a educação e estamos sempre em conversação com os pais e encarregados de educação com o intuito de acrescentar mais qualidade. E todas as restantes áreas têm o seu quinhão de possíveis melhorias.

Quer sublinhar alguns exemplos?
Um dos exemplos tem que ver com a criação de mais espaços para as infraestruturas atuais. O projeto mais importante que queremos implementar passa por alargar a nossa oferta educativa ao ensino secundário, exatamente porque os pais sempre manifestaram essa necessidade. Era para ter arrancado em setembro, mas o processo não correu como queríamos, acredito, contudo, que no próximo ano letivo deverá acontecer.

E que outras mudanças poderão existir?
Queremos muito melhorar o apoio à terceira idade. Já damos resposta a cerca de 200 idosos no centro de dia, na estrutura residencial e no apoio domiciliário. Estamos a estabelecer contactos para construir um novo lar e acredito que em breve poderemos ter novidades. No entanto, mantemos uma dinâmica muito forte com os diversos agentes locais, autarquias, organismos públicos e privados, para criar iniciativas que promovam a qualidade de vida dos nossos utentes.

Na valência da creche, onde parece haver mais procura, há ideias para o futuro?
Nos últimos anos sentimos uma forte quebra, por causa da crise e tudo o que ela trouxe: baixas taxas de natalidade, avós a fazerem o trabalho dos jardins de infância, pais desempregados disponíveis para tomar conta dos filhos. As pers-petivas de crescimento estão melhores e a ideia é continuarmos a dar resposta às solicitações da comunidade que nos envolve.

A Ana Maria Lima é da zona de Lisboa. Teme que isso a coloque distante da região?
Não, de todo! Sinto a Fundação como qualquer Alverquense. A Fundação tem 416 traba-lhadores, morando alguns a dezenas de quilómetros de distância. Somos uma equipa dinâmica e a nossa gestão é muito aberta. Fazemos reuniões frequentes e mantemos pontes constantes com a comunidade de Alverca.

Contudo, a sua formação de vida é a banca. Não receia ter uma visão demasiado economicista do seu trabalho?
É curioso que comecei a minha carreira profissional num colégio, só ingressando na banca posteriormente. Uma vez na banca, trabalhei em várias áreas e terminei no departamento que, para além de ou-tras funções, tinha a seu cargo a responsabilidade social do banco, que é dirigida sobretudo para o ensino e o conhecimento, apoiando também a cultura, desporto e ação social. Como a    educação é uma das áreas mais fortes da CEBI, essa minha experiência trouxe  sensibilidade quanto à importância do ensino no desenvolvimento de uma sociedade. Portanto, quando entrei para a CEBI essa experiência ajudou-me  a ter uma melhor perceção sobre as questões com que diariamente lidamos na Fundação. Aqui criamos cidadãos do mundo e incutimos, com naturalidade, valores como o altruísmo e a solidariedade nos nossos alunos.

Ainda assim, é preciso pagar para frequentar a CEBI. Será a fundação demasiado elitista?
Infelizmente, os subsídios que o Estado concede à Fundação apenas cobrem cerca de 30 por ento dos seus custos. Por esse motivo, as famílias também tem de contribuir com a sua quota parte de modo a suportar a diferença, contributo esse que é calculado em função do seu rendimento nas valências subsidiadas. O facto de existirem famílias que pagam uma mensalidade mais elevada, permite a frequência de alunos mais carenciados com mensalidades baixas ou mesmo gratuitas e a atribuição de bolsas de estudo. Si-gnifica isto que quem coloca os seus filhos no colégio da Fundação sente este espírito de solidariedade, não havendo qualquer distinção entre os alunos pelo facto de terem mensalidades diferentes. O ensino é igual para todos.

Deduzo que gostaria de poder ajudar mais.
Sem dúvida. Tendo sempre presente a sustentabilidade da Fundação, somos particularmente sensíveis aos mais desfavorecidos. No entanto, a Fundação CEBI está consciente do seu papel na promoção da di-gnidade humana. Posso confidenciar, por exemplo, que nunca alguma criança a viver na nossa Casa de Acolhimento passou um Natal ou passagem de ano na instituição. Pais, professores, técnicos e famílias amigas, há sempre alguém que se oferece para lhes proporcionar umas festas felizes em ambiente fami-liar. Faz parte do nosso código genético e isso enche-nos de orgulho.

Ainda assim, continua a falar-se de crise. Como vê o futuro do país?
Com esperança e muito otimismo. Existem alguns sinais de melhoria, como sejam a diminuição da taxa de desemprego e um ligeiro aumento do poder de compra. Outros indicadores apontam também para a retoma da economia. Esperamos assim que sejam criadas condições para que se inicie o rejuvenescimento do país, que, neste momento, está bastante envelhecido. Felizmente, hoje, os nascimentos já superam os óbitos, pelo que dentro de alguns anos teremos certamente uma população ativa superior à atual.

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