Quem tem medo do lobo mau?


As férias da páscoa terminaram e regressam as aulas. O dilema das atividades extracurriculares e de ocupação dos tempos livres dos mais novos visto pelo prisma da nossa psicóloga.

Por Guida Alves*

O lobo mau faz parte integrante das histórias infantis, como uma figura que se carateriza por ser maldosa mas também subtil. É sobre a subtileza ou a matreirice a que os nossos filhos poderão estar expostos em determinados contextos que vos escrevo. Cada vez mais é conhecida a importância das atividades extracurriculares no quotidiano das crianças. Grande parte assume um papel preponderante na formação do indivíduo. A escolha ou aceitação por parte dos pais das atividades extra-escolares estão muitas vezes condicionadas por diferentes fatores, como o tempo de permanência ou o custo. Exemplo de uma atividade de grupo com custos muito pouco relevantes, mas que implica  pernoita é a desenvolvida pelos  escoteiros. A fraca adesão por parte dos pais na colocação dos filhos no escotismo, para além das convicções religiosas de cada um, está em muitos casos condicionada pelo facto de os filhos terem as saídas de campo. Porém, as crianças que frequentam os escoteiros brincam, fazem amigos e aprendem conceitos importantes tais como o do respeito pelo próximo e a importância do trabalho em grupo. Entre acampamentos e outras aventuras ao ar livre, a criança aprende através da brincadeira. O contacto com a natureza é estimulado e há um sério contributo com tudo isto para a  construção da personalidade da criança. Será importante, também, referir uma outra mais valia, o facto de os  pais envolverem-se nas actividades e ajudarem na administração e organização dos grupos.
A não adesão por parte dos pais à frequência de atividades de grupo pelos filhos, deve-se, sobretudo, a uma sensação de insegurança face à ideia da perda do controle sobre os mesmos, acabando por  dar preferência ao estar em casa em frente a um computador. Ora, esta circunstância representa, sem dúvida, um risco muito maior do que uma pernoita numa saída de campo dos escoteiros. Lembro-me de uma mãe (cuja filha acompanhei em consultas de psicologia) que resistia veementemente à perspetiva  de incluir a filha de oito anos, em qualquer atividade de grupo, fora do contexto escolar, por sentir que a mesma podia representar uma ameaça ao seu saudável desenvolvimento. Não obstante,  deixava a filha horas a fio frente ao televisor sem a supervisão de um adulto.
Não estará o “lobo mau” com a sua matreirice e subtileza mais presente num ecrã de televisão, telemóvel ou computador sem o controlo e a supervisão parental, do que num acampamento de escoteiros ou qualquer outra actividade grupo? Talvez tenhamos medo do um lobo mau errado.


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