Correr na cidade


Este sábado, 8 de outubro, é o dia da atividade física na Feira de Outubro e o senso comum diz que para correr, por exemplo, é necessário ir para o passeio ribeirinho ou ter um espaço grande disponível perto de casa. Errado. As ruas de uma cidade, apesar de cheias de obstáculos, são igualmente adequadas para a prática do desporto. Que o digam os Alverca Urban Runners, um grupo informal de anónimos que todas as segundas e quintas-feiras, depois das 20h00, saem de casa em busca de adrenalina. "A ideia", explica o responsável, "nasceu há cerca de dois anos quando eu e um amigo decidimos juntar mais gente nas nossas corridas. Começámos com eventos esporádicos que vieram a ter cada vez maior adesão". Lino Silva, de 44 anos, nasceu em Lisboa mas cresceu em Alverca. Conhece a cidade como a palma das suas mãos e, apesar de insatisfeito com a ausência de caminhos disponíveis para corrida, acreditou que poderia tornear o problema. "Ao contrário da Póvoa, de Alhandra e de Vila Franca, não temos passeio ribeirinho e, como tal, tivemos que encontrar alternativas. Aproveitando passeios, locais de menos trânsito automóvel, passagens superiores e afins, Lino conseguiu desenhar vários itinerários, com diferentes níveis de dificuldade, e que hoje permitem uma oferta interessante para quem se decide aventurar nestas lides do running.
Nuno Moreira é um deles. "Durante toda a vida conheci-me como uma pessoa forte, com hábitos de vida nada saudáveis", diz, rindo-se do passado. "Sempre me conheci daquela maneira e achava normal o meu peso. Até ao dia em que, nuns exames de rotina, me foi diagnosticado tensão arterial elevada. Na altura, com menos de 30 anos, a médica avisou-me que era preocupante", confidencia. E foi assim que, de um dia para o outro, Nuno decidiu transformar a sua vida. Largou os refrigerantes, os snacks, as comidas rápidas e começou a perder peso. "Um dia, na ida para o trabalho, adormeci no comboio e saí na estação seguinte. Ia apanhar o autocarro de volta, mas percebi que a pé nem era longe e arrisquei. No fim, descobri que o trajeto fazia-se bem e, desde aí, passei a andar mais a pé". Até começar a correr foi um pulo. Primeiro, por brincadeira, com colegas de trabalho e, depois, nos Alverca Urban Runners. Entretanto já queimou mais de 20 quilos!
Rita Merenda tem uma história diferente. Aos 11 anos sofreu de leucemia e foi alvo de tratamentos muito agressivos que lhe deixaram mazelas. Com menos de 30 anos já tinha osteoporose. "A minha médica, amigos e familiares diziam-me que andar e correr era uma boa forma de atenuar o problema e comecei por fazer caminhadas". Entretanto, o marido já corria de vez em quando, algo que nem a fascinava. "Perguntava-lhe sempre porque ia ele correr ao final do dia, em vez de ficar em casa com a família". Mal sabia ela o que o futuro lhe reservava. É operada à tiróide e vê-se no risco de aumentar de peso. "Foi aí que decidi arriscar e fazer umas corridas". Juntamente com mudanças na alimentação, Rita foi e nunca mais se arrependeu. "Há pouco tempo fiz exames e a osteoporose está a zero. Por isso, posso dizer que tive ótimos resultados", congratula-se.
Os Alverca Urban Runners estão cheios destas histórias de sucesso e peripécias engraçadas. "Não somos atletas profissionais. Apenas queremos conviver e, com isso, levar uma vida mais saudável", explica Lino Silva. Nuno Moreira exemplifica: "no primeiro dia em que vim correr, como não estava habituado, comecei a ficar para trás. O Lino, que ia mais à frente, fez questão de voltar para me acompanhar e dar um incentivo. Foi fundamental esta atitude porque, caso ele não tivesse tido este gesto, muito provavelmente não teria vindo uma segunda vez". Companheirismo, amizade, saúde, desporto... Os Alverca Urban Runners são quase uma família onde toda a gente se conhece e cada novo membro é recebido de braços abertos. Haverá melhor estímulo que este para ir correr?





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