Assinala-se amanhã, quarta-feira, 8 de março, o dia internacional da mulher. Em Portugal, 62 por cento dos doutorados são do sexo feminino. Mas só três conseguiram ser reitoras e poucas atingiram o cargo de professora catedrática. Muitas desistem da carreira por causa da família, a outras não lhes é permitido, subrepticiamente, chegar lá. E, claro, há o vencimento que continua a ser inferior. No entanto, as leis e a mudança de mentalidades têm permitido abrir portas e desbravar caminhos. E nem é preciso ir muito longe para encontrar exemplos de determinação. A gira de março entrevistou algumas das mulheres mais importantes da região. Este é um excerto do texto que pode ler na totalidadeaqui 👉 http://bit.ly/2mT0RlM ou aqui 👉 revistagira.com.
📝 António Dias
Ana Ribeiro fala com rapidez e de forma assertiva. A formação na GNR deu-lhe a postura e obriga-a a um certo porte. Tem uma arma à cintura, o que impõe respeito, e na parede ao lado estão afixadas as fotos de alguns dos 170 militares que estão sob o seu comando, no posto territorial da GNR de Vila Franca de Xira, em Vialonga. Sorri quando é questionada sobre o poder que tem sobre todos eles. “Acredito que o facto de ser mulher permite-me encontrar consensos mais facilmente. Os homens tendem a aceitar melhor as ordens delas do que de deles. Conseguimos levar a nossa avante de uma forma mais subtil”, segreda. Não que tenha sido isso que a fez chegar ao cargo de líder. “Ingressei na Academia Militar e fiz o meu percurso normal de oficial até chegar aqui. E nunca fui alvo de qualquer discriminação. Se fosse, haveria os meios próprios para seguir”, assevera. Durante a sua carreira profissional, reconhece que teve um ou outro colega talvez um pouco mais cauteloso na abordagem. “Sobretudo no início quando ainda era inexperiente. Cheguei a capitão com 23 anos de idade e a maioria dos meus subalternos eram de faixas etárias elevadas. Acredito que muitos me pudessem olhar de soslaio. Eu própria receava falhar. Mas tudo muda e ganha-se com a experiência de vida”, resume.
Porém, há talvez um carinho, quase paterna-lista, quando uma mulher enfrenta uma posição que lhe exige esforço. Que o diga Ana Batista, a cavaleira de Salvaterra de Magos, que quis ser toureira. “Sempre tive que lutar para ganhar a posição de igualdade perante os homens. No início, havia como que um cuidado acrescido que eu sempre recusei. Queria fazer o mesmo que os meus colegas, sem mais ou menos vantagens. Só assim consegui o reconhecimento que tenho hoje”, assegura. Na sua quinta, rodeada de campo e paz, veste com orgulho o traje de amazonas, enquanto troca uma carícia com o seu cavalo. “No norte, as mulheres são mais calorosas e gritam palavras de incentivo. Uma vez, ouvi uma conversa entre dois homens que, na brincadeira, me perguntavam se eu sabia cozinhar. Houve sempre um carinho diferente por ser mulher. É claro que um homem consegue brigar com um cavalo mais tempo e com menos sofrimento físico. Todavia, tentei sempre tourear de igual para igual. O toiro não sabe distinguir qual o sexo da pessoa que tem à sua frente", sublinha. Ana Batista perdeu a conta às lesões que sofreu. "Estou cá. Superei tudo. Também acho que é essa força que fez com os meus colegas percebessem a minha determinação". De facto, espera-se sempre que o sexo feminino seja sinónimo de submissão, carinho e sensibilidade. Ao demonstrar força, ela rompe com esse esteriotipo e há quem entenda isto como um confronto.
Durante as eleições presidenciais, Hillary Clinton defendera a sua postura mais fria e rude por vezes, como resposta ao mundo fechado da política. Um pouco à semelhança das críticas que atiram a Angela Merkel. “O facto de ser mulher obrigou-me a ser mais ríspida para poder entrar num universo predominantemente masculino”. No entanto, Maria da Luz Rosinha discorda desta posição. “A credibilidade não resulta de dureza, mas sim da convicção e honestidade que colocamos nas causas que defendemos. Se isso obrigar algumas vezes a ser mais firme, não tem a ver com o género, mas sim com a afirmação”. A deputada do PS esteve à frente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira entre 1997 e 2013. “Em momento algum e numa terra de gente muito assumida me senti descriminada por ser mulher. Orgulho-me de o ser”. Para Ana Batista essa é até uma vantagem. "Conseguimos levar para a praça uma sensibilidade diferente e isso atrai também o público e transforma o espetáculo mais rico", defende a toureira.
Aos poucos, elas chegam lá. Fruto da liberalização sexual das últimas décadas, o sexo feminino conquistou terreno e é hoje um elemento cada vez mais forte na sociedade. "Se estivermos atentos, verificamos que há muitas mulheres em lugares de grande relevo, como na investigação científica, nas universidades, na justiça e em algumas empresas", atesta Maria da Luz Rosinha. Amália Rodrigues, por exemplo, ainda é uma das mais fortes imagens de marca do país no mundo, tal como o é a fadista Mariza. Joana Marques Vidal é procuradora-geral da República e foi conside-rada das mulheres mais poderosas do país. E depois há os casos mediáticos de Cristina Ferreira que em tudo o que toca transforma em ouro. É provável que poucos homens consigam escalar a montanha do sucesso tão rapidamente quanto ela. A apresentadora é vista como uma referência para o público feminino. “Se ela consegue também eu consigo”, pensarão. Porém, a realidade ainda é cruel. Os números da violência doméstica continuam muito altos. Em 2015, 29 mulheres perderam a vida às mãos dos "seus amados". Todos os dias, quase duas dezenas são alvos de agressão. Elas representam 80 por cento das vítimas de todos os crimes registados. Os homens são quem comete a maioria. "É uma realidade muito complicada de combater", suspira Ana Ribeiro. "Muitas só apresentam queixa depois de décadas a sofrer maus tratos. Outras, negam tudo por receio de represálias e grande parte dos casos são arquivados porque depois não há provas. Exceto nos casos em que há registos médicos ou outras evidências. De resto, é muito complicado quebrar o ciclo", lamenta a militar da GNR. Para a deputada do PS o fim só passa pela capacidade de independência. "Ninguém é incapaz e a mulher tem seguramente um espaço na família e na sociedade que é seu e pelo qual deve lutar". O lema mantém-se e a luta continua.
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